terça-feira, 15 de julho de 2008

Porque não vivo sem amor...

Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria. Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas. Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não está lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.
reflexão de Miguel Esteves Cardoso in Expresso

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Folia

Noites assim valem sempre a pena! Divertimo-nos imenso, o que aliás acontece sempre que nos juntamos! Beijinhos para vocês todos!!!

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Saudade

Vinte e quatro anos. Vinte e quatro anos contigo a dormir no quarto ao lado do meu. Vinte e quatro anos a ver-te acordar de manha. Vinte e quatro anos a tomar o pequeno almoço contigo. Vinte e quatro anos a almoçar contigo. Vinte e quatro anos a jantar contigo. Vinte e quatro anos a ver-te a fazer coisas tão banais como lavar os dentes de manha, fazer a barba (e o cheirinho que fica na casa de banho quando fazes a barba). Vinte e quatro anos a ver a tua roupa no monte para passar ao lado da minha. Vinte e quatro anos a ficar piursa contigo quando acabavas com o gel de duche e não me avisavas ou quando usavas o meu shampô xpto em vez de usares o teu. Vinte e quatro anos a ficar surda com o barulho que vinha do teu quarto enquanto jogavas PS. Vinte e quatro anos de ti ali bem perto de mim. Vinte e quatro anos a ficar piursa por ter que te chamar vinte vezes para vires para a mesa almoçar ou jantar. Vinte e quatro anos a ficar louca com o barulho que fazias na pista de cross com a tua mota. Vou sentir falta de tudo mano, mesmo. De te ver acordar, de te ir apagar a TV do quarto quando adormecias com ela ligada, de te ver a ir de biquinhos de pés apagar a minha TV quando eu a deixava ligada e tu pensavas que eu já estava a dormir, de fugir para a tua cama quando tinha medo do escuro, de chamar por ti quando via uma aranha, de saber que estás ali... É disso que vou ter saudades mano, de te sentir ali...
Sim, fico MUITO feliz por ti, feliz porque estás feliz, feliz por ver que estás grande (porque apesar de seres o mano mais velho não te via assim tão crescido), feliz porque sei que vais ser feliz nessa nova etapa da tua vida, feliz porque sorris... Mas ao mesmo tempo a tristeza também paira sobre mim, tristeza porque sei que vou morrer de saudades de ti, porque apesar de ficares a morar bem pertinho de mim, já não vais estar no quarto ao lado do meu...
Parabéns mano, parabéns por seres quem és, parabéns por seres como és, parabéns por seres assim! Parabéns por este passo que vais dar! Parabéns porque mereces tudo na vida!!!
Amo-te com todo o meu coração!!!