quinta-feira, 2 de abril de 2009

A Solo

Sempre fomos uma família de desafios a solo.
Todos e cada um de nós sempre acabou por correr sozinho. Por se desafiar a si próprio e aos seus própios limites e vencê-los com a satisfação ainda maior de o ter feito sozinho.
Correr em equipa é bom. É bom porque quando nos estamos a ir abaixo temos os outros membros da equipa que nos dão a mão e ajudam a levantar e nos dão a luz que precisamos para voltar a acreditar que vamos chegar à meta e vencer. É bom porque quando estamos mais cansados eles puxam por nós, eles pedalam um pouco por nós e ajudam-nos a manter-nos no percursos que alguem traçou para aquela corrida.
Por outro lado correr em equipa tem o risco de estares dependente dos outros. De correres o risco dos outros desistirem a meio da corrida. Porque tu sabes do que és capaz e da força que tens mas não podes garantir que os outros tenham a mesma força que tu.
Correr a solo é isto. É ultrapassares os teus limites a cada pedalada que dás. É, quando achas mesmo que não vais conseguir mais, arranjar forças para pedalar um pouco mais. É venceres-te a ti próprio. É sentires-te a quebrar e com uma força que só nós sabemos onde a vamos buscar, ganhar energia para ir um pouco mais longe.
O bom de correr a solo é que quando chegas à meta sabes que chegaste porque não desististe. Sabes que chegaste porque TU acreditaste e continuaste lá, mesmo quando a meta estava ainda tão longe que tu não a conseguias sequer ver, mas acreditavas e sabias que ela estava lá.
Quando começaste a corrida e te faltavam 24 horas para a acabar não podias sequer pensar na meta, porque se começasses a pensar na meta ias quebrar logo ali, porque afinal, ela estava a 24 horas e 316 kilometros de distância, e o jogo psicológico ia quebrar-te. Assim focaste-te apenas em pedalar, em vencer-te a cada hora que passava. Mesmo quando a lua subiu ao céu e o bosque se abriu para as criaturas da noite, tu, com a força e determinação que eu tão bem conheço, continuaste na luta, sozinho, a solo. Tinhas-te a ti e só a ti. Tinhas o pior equipamento de todos, mas tinhas uma coisa que mais ninguem tem, uma coisa que corre no sangue, uma coisa que só os Sesimbra têm, esta garra e este prazer em vencer-nos a nós próprios, esta capacidade de quebrar os limites, esta força que faz com que o céu seja mesmo o limite e tu já o conquistaste...

Sem comentários: